documentário | fotografia

sertão branco

A região do Araripe, no Estado de Pernambuco, é o principal polo de produção de gesso do Brasil (quase 95% da produção nacional). O produto é resultado do beneficiamento da gipsita, mineral abundante em diversos municípios e extraído  por mineradoras instaladas em diversas cidades pernambucanas.

Durante a produção deste documentário, foram encontradas fortes violações aos direitos humanos. Trabalho infantil, doenças respiratórias e contaminação ambiental fazem parte da vida dos moradores de diversas cidades localizadas no Sertão do Araripe, onde mineradoras e calcinadoras usam o minério para fabricar gesso. O sertão está branco, cobertura por uma espessa camada de pó e os trabalhadores, por uma questão de sobrevivência, aceitam vínculaos empregatícios precários, com condições de trabalho degradantes.

 

O projeto Sertão Branco foi realizado no âmbito do Projeto “Promoção e Implementação dos Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho no Brasil”, implementado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT). A Agência Papel Social foi contratada para conduzir uma análise situacional sobre as condições de trabalho na cadeia produtiva do gesso. Trabalhei à frente do projeto como Diretor de Fotografia.

Para acessar o relatório completo do trabalho, acesse o site: http://papelsocial.com.br/projeto_gesso.php

Castanhal

 

Em locais remotos da Amazônia, comunidades tradicionais vivem do extrativismo da castanha. O produto entra na cadeia produtiva de diversas empresas ao redor do mundo.

Fernando e família, extrativistas. Sob sol ou chuva, são três horas de caminhada floresta adentro, subindo morro, passando por igarapés e pontes de troncos. Quase 10 horas de trabalho entre colheita, quebra e carregamento. Nas costas, o balaio com castanhas chega a pesar 85kg. No final da temporada, todo o esforço é recompensado por R$ 3 o quilo da semente.
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Esse é apenas um recorte da dura realidade dos coletores no Igarapé Manithiã, no Amazonas, durante os três meses de colheita da castanha do Brasil. Desmatamento, dívidas e sistema de aviamento são cada vez mais constantes na região, que é a maior produtora do país. Tirando todos os perigos da mata e do homem do gado.
 

No âmbito do Projeto “Promoção e Implementação dos Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho no Brasil”, implementado pela Organização Internacional do Trabalho, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, a Papel Social foi contratada para conduzir uma análise situacional sobre as condições de trabalho na cadeia produtiva da castanha.
 

Para acessar o relatório completo do trabalho, acesse o site: http://papelsocial.com.br/projeto_castanha.php

vidas tragadas

 

Vidas Tragadas é resultado de um ano de investigação jornalística sobre as condições de trabalho dos agricultores familiares responsáveis pela produção de fumo no país, segundo maior produtor mundial de tabaco e fornecedor das principais empresas do setor, como British American Tobacco (BAT), Philip Morris International, China National Tobacco Corporation, Imperial Tobacco Group e Japan Tobacco International.

 

O cenário encontrado durante a produção na região Sul do país, que concentra quase toda a produção brasileira, foi o de agricultores familiares em jornadas extenuantes, expostos a agrotóxicos e contaminados por overdoses de nicotina. Médicos e cientistas associam o cultivo do fumo aos alarmantes índices de depressão e suicídios registrados em todos os polos produtivos.
 

O trabalho infantil também está presente. Adolescentes trabalham tanto para a própria família quanto para empreiteiros de mão de obra, em áreas de cultivo integradas às empresas.

Para acessar o relatório completo do trabalho, acesse o site: http://papelsocial.com.br/projeto_tabaco.php

frutas doces, vidas amargas

 

Produzido em parceria com a Papel Social, com realização da Oxfam Brasil, mostra resultado da viagem de campo feita para averiguar a situação de vida e trabalho de quem produz as frutas que compramos nos supermercados.

 

Os grandes supermercados do mundo estão lucrando bilhões ano após ano a um custo muito alto: péssimas condições de trabalho, pobreza e sofrimento para milhões de homens e mulheres trabalhadoras e agricultores em diversas partes do planeta. A situação é tão desesperadora que muitos dos que produzem nossos alimentos mal têm o que comer.


Carrefour, Pão de Açúcar e Big (ex-Walmart) estão vendendo frutas com sofrimento humano. Milhares de pessoas que plantam e colhem essas frutas não conseguem ter uma vida digna por terem baixos salários, empregos temporários e altos riscos de contaminação por agrotóxicos. Enquanto a uva, a manga e o melão brasileiros fazem sucesso pelo mundo, os trabalhadores que produziram essas frutas estão entre os 20% mais pobres do Brasil.

Você pode acessar mais detalhes da campanha "Frutas Doces, Vidas Amargas" no site: 
www.oxfam.org.br/setor-privado-e-direitos-humanos/por-tras-do-preco/frutas-doces-vidas-amargas/

cacau amado

 

O sistema econômico do cacau no padrão de exportação do produto como commodity é sustentado mundialmente por uma lógica desumana e imoral, em que a exploração da mão de obra e o trabalho semi-escravo são práticas comuns nas zonas de cultivo.
 

A cadeia produtiva no Brasil não foge dessa condição. Na Bahia, um dos principais polos de cultivo, a cacauicultura chegou a ser a base de todo o desenvolvimento estadual. Porém, o trauma socioeconômico causado pela crise da Vassoura-de-Bruxa, a partir de 1989, reduziu em 72% a produção do cacau, levando a falência de muitos produtores rurais, e causando desemprego de aproximadamente 200 mil pessoas.
 

Quase 30 anos depois do início da crise, a palavra que marca a região é abandono. Nas paredes das antigas fazendas. Na pele. Os trabalhadores do cacau permanecem esquecidos, agora escondidos sob um teto remendado da antiga Casa-grande. E a terra ancestral, como objeto do desejo, torna-se frustração. Na Costa do Cacau, chão de contrastes, mudam-se os tempos, mas a história parece repetir o caminho: filhos plantam as novas safras de cacaueiros em riba de seiva do próprio pai, enraizado à terra dos outros.
 

Acesse também o curta-metragem na página do Canal Futura (Grupo Globo): 
www.futuraplay.org/video/cacau-amado/444805/ 

terreiro de areia

 

Sobre as ondas brancas de areia, aos poucos, o vento seco beija com paciência as dunas que circundam a Vila do Arvoredo, no bairro Ingleses, e carrega, infindamente, milhares de pequenos grãos até a fachada dos casebres que formam a comunidade, também conhecida como Favela do Siri. Abaixo das dunas e da mata rasteira, a típica restinga, as casas de madeira mambembe e telhado de zinco surgem como uma miragem no meio do deserto, onde dezenas de famílias pobres lutam, diariamente, por uma vida digna e tranquila. Descalça, enquanto cuida os passos da filha de criação caçula, Mãe Mari, 51 anos, dona do único terreiro da favela, caminha e deixa a marca de suas pegadas na densa areia de primavera, castigada por longos 40 dias de chuva. 

Da sua voz rouca, ecoada no genuíno sotaque manezinho, a feiticeira conta que o Terreiro de Umbanda Caboclo Rompe-Mato foi erguido com esforço de sua família e filhos de Santo, que levantaram a construção primeiro de bambu e depois de madeira. Como forma de dar adeus à construção frágil, que tinha sido consumida por constantes tempestades de areia, a Ialorixá organizou uma grande festa. Mas, justamente quando seu esposo, Alcionei, e os filhos de santo tinham acabado de erguer e pregar as últimas tábuas da construção, uma vizinha denunciou o feito da família e a Fundação Municipal do Meio Ambiente (FLORAM) tratou de intervir e multar a dona da casa, alegando que a construção terreiro era irregular. Obstinada, a Mãe de Santo argumentou que a casinha não era para morar, era para religião.

E a sessão continua. Entre um gole e outro, um trago no cigarro, um canto e um rodopio, a noite segue na força do axé. Os pés descalços, com a barra da calça dobrada, vibram junto com o chão de madeira oca. “Exu dá boa noite! gostas de cerveja, é?” seduz Exu. E quando o silêncio chega no terreiro, do lado de fora, uma imensa orquestra de sapos e pererecas soltam o seu ecoar, como se o agrado dos santos naquela noite, fizesse valer para a comunidade inteira. O texto completo você encontra no site: https://medium.com/@midiamaruim/terreiro-de-areia-258da904cb08

o ronco da corvina

 

Na contra-mão do modelo exploratório industrial, sobrevive a pesca artesanal de gente simples como Valcir, velho do mar, enfrentador das marés do norte da Ilha. Valcir é homem de poucas palavras. Também não de muitos sorrisos, apesar de que os que aparecem, vêm sinceros, como um presente para quem os vê. A aparência deixa rastros que se trata de um homem do mar: sal entranhado no corpo, pele firme e manchada, as mãos calejadas de navegar e os olhos presos no horizonte.
 

O trajeto é diário até a orla, onde é visto com frequência na costura de redes de pesca, solitário e compenetrado, como de costume, no trapiche da praia. Para manter a tradição, ensinou o filho Diego a navegar e todas minúcias para ser bem sucedido na pescaria. Juntos, pai e filho saem numa manhã ensolarada de novembro para escutar a melodia da primavera, o canto dos peixes da estação. E como cantam as Corvinas! Quase 30km longe da costa, próximo à Ilha do Arvoredo, em alto mar, os cardumes são identificados a partir de seu “ronco”, diz Diego. Com um instrumento improvisado, feito a partir de um cano de pvc, os pescadores conseguem escutar o chamado dos cardumes e identificar pra onde a maré está levando a cantoria. É hora de pôr a rede no mar.
 

O barco descansava, após percorrer 4km para fazer o cerco. Um silêncio quase pleno, barulho de vento, mar revolto, gaivotas planando. O legado de Valcir se reproduz nesse silêncio. E o filho absorve, como se fosse esse o ensinamento: observar o pai permanecer sem fala pelos cantos do barco, atento a qualquer pequena função ainda não executada. A rede, qualquer costura por fazer; as bandeiras, onde foram atiradas; as corvinas, atentar por onde estão os roncos. Em Diego, era nítido que vinha se preparando para tornar-se pescador solitário, autônomo, de sair àquelas águas apenas consigo próprio -  e guiar-se sozinho pela corrente do vasto azul. A não ser pela companhia do rádio. Valcir já abandonara o uso dele, agora apenas escuta o filho Diego construir diálogos. O rapaz agora não passa mais as coordenadas para evitar barcos nas proximidades. Prefere falar sobre o alto mar, do dia ao lado de visitas. O companheiro responde sobre o feijão que o espera. Feijão bom, caseiro. Conta causos e ri com outros pescadores a quilômetros de distância. O rádio descansa. O pescador levanta o celular aos céus, busca sinal. Consegue falar com o filho Cauã, pergunta se o menino fez os deveres. Desliga o aparelho, satisfeito pela tarefa de pai. Dorme no piso. A rede será puxada.
 

O sol começava o processo de cair por trás da Ilha do Arvoredo. Observando a cena, pai e filho aceleravam o trabalho: faltavam ainda metros de rede por puxar e algumas corvinas por desenrolar da costura. Os dois agora permaneciam lado a lado, por cima do emaranhado de linhas, imundos com a lama da profundidade que vinha incrustada nas escamas dos peixes. Lançavam as corvinas pro fundo da embarcação contentes com o aglomerado que chegaria a 700 quilos. Há tempos não tinham tanta fartura, praticamente três meses. Das corvinas empilhadas sobressaía um brilho das escamas enlameadas. Empilhadas, roncando baixo quase por não se escutar, esboçavam alguns últimos suspiros. O pôr do sol quase inteiramente adormecido anunciava a noite e o fim da jornada. A lua acompanhava a viagem de volta em uma finura complacente com a aparição de algumas estrelas ao redor. As luzes eram amigas e não se estranhavam. Valcir trocava o vestuário, silencioso. O filho dirigia a embarcação, quase por não enxergar mais a olho nu. O barco somente flutuava rapidamente, seguindo a guia das ondas.
 

Naquele momento nenhuma palavra trocada. Um respeito ao esforço, à noite, ao oceano. Ficava para trás a Praia Brava, a Lagoinha e Canasvieiras muito ao fundo aparecia. Sinal que era apenas mais uma ponta por dobrar. Nesse momento, surgiram as primeiras bateras ancoradas sob a penumbra. No mar apenas alguns faróis de barcos recém estacionados. Era tempo de contar os peixes. Passar as corvinas para as bateras, uma a uma, por meio do arremesso. Ritual executado sem muitas delongas. Pai e filho voltaram remando juntos na pequena batera que os levou. Força derradeira. Era hora de voltar à solidão de estar novamente em terra. De cuidar da casa, do sustento, das redes, da vida monótona da cidade. Enquanto a gente vê terra, Valcir não tira os olhos do mar. Tudo isto, todo este azul, toda este frescor, entranha-se em jorro pelos olhos e alma dentro. É esta tinta azul que não só ondula – estremece o corpo vivo, numa ação extraordinária, e lhes mostra que existe um mundo sempre novo, que os rodeia, penetra o seu bafo e comunica a vida. É ela que os une e os salva.
 

cangalha

Maio é tempo de farinhada, e no engenho do Seu Aílton, o boi Moreno põe-se a girar pelo rastro de palha seca em volta da cangalha. Escondido sob a névoa branca de farinha torrada, Sid orienta o animal enquanto a comunidade observa o ritual. No fim do processo, todo mundo volta com farinha para casa.
 

Fui até o Sertão do Ribeirão, comunidade rural crescida entre os morros cobertos por Mata Atlântica, que separam os distritos do Ribeirão da Ilha e do Pântano do Sul, para conhecer a tradição secular da produção de farinha na Ilha de Santa Catarina.

Leia a reportagem completa no site: 
https://medium.com/@zeroufsc/os-%C3%BAltimos-engenhos-de-cangalha-da-ilha-7363e268a411

as cordas de antônio

Não havia em seu corpo nenhum indício da enfermidade da moda, nem de nenhuma outra tendência dos tempos modernos. O jeito tímido e humilde de lidar com a vida era simbolicamente exposto no que vestia: um conjunto cinza degrade, composto por moletom e calça rasgada, meia fina, óculos redondos de garrafa e uma velha e boa sandália grega de couro, daquelas que, com o tempo, acabam se tornando de estimação.
 

Era terça-feira, o dia estava nublado e havia um clamor de trovões escuros acima dos montes e favos de pinheiros no horizonte. Mal havia saído do portão branco pontiagudo de flechas brancas, que dá entrada ao jardim de sua casa, e o experiente senhor italiano, de olhos fundos e melancólicos, começava com simplicidade seu período de sesta. Observando a tempestade distante, o luthier Antônio Bittencourt, de 81 anos, se sentava sozinho à beira da calçada, tentando ler um livro à sombra da única árvore da ladeira, um flamboyant antigo e robusto.
 

acesse o texto completo no link: https://issuu.com/vitorshimomura/docs/filhos-da-terra-2-rgb

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